Faz amanhã uma semana que tive o prazer de assistir na companhia de alguns dos meus melhores amigos e amigas (isto dos grandes momentos ainda faz mais sentido partilhados com amigos) ao documentário itinerante acerca da vida e carreira de António Sérgio, intitulado “O UIVO”.
Zona industrial do Barreiro, uma sala de cinema improvisada, gente de todas as idades e estilos, bastante composta. Parecia um cinema clandestino do antigamente. Impecável. Cenário perfeito para uma “imensa minoria” como era intitulado nos tempos da XFM.
O projecto foi elaborado pelo jovem realizador Eduardo Morais (autor já de outros projectos do âmbito musical) e com base num esquema de crowd funding conseguiu elaborar um excelente trabalho (com uns pequenos problemas no som – reconhecidos pelo autor) que consegue perfeitamente transferir para 1h30 o legado de um dos maiores radialistas portugueses. Nesse ponto está cinto estrelas.
No entanto o que me atraiu mais no documentário e na história de vida de António Sérgio foi uma capacidade bastante desvalorizada nos dias que correm, mesmo com o evoluir de uma sociedade portuguesa pós 25 de Abril e a abertura ao mundo (com as suas vantagens e problemas inerentes), de conseguir pensar “fora da caixa”.
O que o documentário realmente nos transmite (além de uma indubitável qualidade musical bastante ecléctica) e uma pequena lição de história é que em todos os períodos da nossa história e vivência nos vamos cruzando com personalidades quase anónimas que escolhem não alinhar em “rebanho” e conseguem sair da zona de conforto e explorar o que está mais além E quando essas personalidades o decidem partilhar com o mundo (qualquer que seja o seu tamanho) ainda mais há a louvar. Inevitavelmente chegará sempre o momento em que os “pastores” do “rebanho” conseguem exercer a sua influência e condenar a personalidade a um exílio quase forçado.
Foi basicamente isso que se passou com António Sérgio.
Felizmente, e pelo que vi in loco no documentário e na assistência, muita gente reconheceu o trabalho desta personalidade dos nossos tempos. E mesmo eu, que me recordo pouco do seu grande momento com o “Som da Frente” e me recordo melhor do “Lança Chamas” ou da “Hora do Lobo” agradeço a quem me convidou a assistir a esta 1h30 de histórias, testemunhos, música e cultura.
Mais uma lição.
Foi um prazer.
PS: Mais infos podem consultar aqui.