Se há coisa que me irrita é a incapacidade nacional para efectuar uma fila ordeira. Nem sequer é a incapacidade para a formar (que por vezes existe) mas a capacidade tão inata do Português como gostar de bacalhau: a “chico-espertice”.
Mais do que buracos na estrada ou azeite (de ambos os estilos) devemos ser dos maiores produtores de “chicos-espertos” da União Europeia. Todos os dias vejo um a tentar furar uma fila, a passar à frente, a usar a trapaça ou a artimanha para conseguir chegar a um pont
o primeiro que os demais que ordeiramente respeitam o próximo. Quando por vezes o “chico-esperto” atinge determinado patamar social “desculpam-no” com um simples “é ambicioso”, usando o termo como uma esponja que limpa toda a porcaria que ficou para trás…
É a velha máxima de quem vence as guerras é que conta a história…
E porquê toda esta irritação que pretendo expurgar hoje?
Hoje em Lisboa realiza-se mais uma Greve do Metropolitano, facto per si já altamente desagradável que me obrigou a alterar rotinas (parte menos complicada) e a despender um valor monetário para usufruir de um autocarro da Carris para chegar ao meu destino (local de trabalho), facto que é para mim inqualificável já que tanto o Metropolitano como a Carris pertencem à mesma empresa. Mas como se isso já não chegasse para irritar assisto a isto:
Autocarro bastante preenchido de utentes mas não absolutamente cheio. Aproxima-se da zona do Campo das Cebolas onde uma fila enorme de pessoas o aguarda (ora ai está… sabemos fazer filas). Abrem-se as portas para permitir a entrada e saída de passageiros. E o que fazem umas senhoras de meia idade? Entram pela porta traseira (não respeitando a fila) e nesse preciso momento atropelam um passageiro que pretendia sair. Depois dos evidentes empurrões e da atrapalhação o senhor liberta um “Não sabem respeitar uma fila. Não sabem viver em sociedade”. Educadamente tocou no ponto essencial. Recebeu um “A andar” como resposta. A porta fecha-se e o comentário “Devia andar a passear, nós vamos trabalhar !!!” como se o direito ou dever do trabalho suplantasse as regras da boa educação, civismo ou princípios básicos da vida em comunidade. Mudo a página da revista que lia e tenho uma entrevista com o cientista português João Magueijo a propósito do seu livro satírico acerca da sociedade britânica. Passei directamente para a crónica do Ricardo Araújo Pereira…
E nem olhei para trás…