Falar de Smiths ou Morrissey é para mim a mesma coisa que me falarem da família, da minha mulher, do meu cão, dos meus amigos próximos, do sitio onde estudei ou de todas as viagens que fiz. Falarem-me de Smiths ou de Morrissey é falarem-me da minha vida. Falarem-me de Smiths ou Morrissey é falarem-me do Benfica. Simples.
Não existe qualquer banda ou músico que mais tenha ouvido na vida. Gosto de U2, considero o “Achtung Baby” uma das obras primas musicais do século XX mas não é o “The Queen is Dead”. Gosto da panóplia de Britpop que vai de Oasis a Blur passando pelos Pulp (do também altamente carismático Jarvis Cocker) mas não é a mesma coisa. São bandas e músicos. Smiths e Morrissey acompanham-me há anos e se tivesse de escolher uma banda sonora para o meu funeral lá estariam presentes e larga maioria. Tão simples quanto isto.
Posto isto, antes de ontem apenas tinha tido o privilégio (sim…é um privilégio) de assistir a um concerto de Morrissey. Foi em 2011 em Londres na mítica Brixton Academy e após uma outra tentativa frustrada de o ver em Londres anteriormente (a vida de fan de Moz tem destas coisas… já sofri dois cancelamentos) e podem ler o report aqui.
O concerto de ontem foi diferente do de Londres (pois claro…) mas perguntarem-me se gostei é a mesmíssima coisa que me perguntarem se gostei de ver o Benfica dar 6 ao Sporting em Alvalade. É uma pergunta retórica. E mesmo com o Moz a falhar dizendo “Gracias” em vez de “Obrigado” ou a não conseguir iniciar correctamente o “Certain people I know” é o mesmo que os remates do Isaias para as nuvens mas que mais tarde ou mais cedo acertavam na baliza e davam golo. E rapidamente o mesmo “Gracias” foi substituído por um “Obrigado”.
Depois de cerca de 30 minutos com imagens (com enfase na morte de Thatcher) e musicas (identifiquei Penetration, Ramones, Charles Aznavour, New Your Dolls…) chega o momento mais esperado… uma imagem ofensiva da Rainha Isabel II deixava adivinhar o que ai vinha… “The Queen is Dead” iniciou o espectáculo que durou cerca de 1h30.
Seguiu-se “Speedway” (um clássico de Moz nos concertos) e “Certain People I Know” antes de entrar-mos definitivamente no novo álbum “World Peace is none of your business”. “The bullfighter dies” e “Kiss me a lot” serviram para inicio de hostilidades no novo trabalho. “I'm Throwing My Arms Around Paris” aparece como intruso antes do desfile do trabalho mais recente: “World Peace is None of Your Business”, “Istanbul”, “Neal Cassady Drops Dead”, “Earth is The Loneliest Planet”, “Trouble Loves Me” (outro intruso de Malajusted),”Kick the Bride Down The Aisle” (com uma imagem dos principes William e Kate) “One of Our Own” e “ I’m Not a Man”.
Depois e antecedido pela frase “And now…because we must” surge “Hand in Glove” para delírio de um Coliseu um pouco anestesiado pela catadupa de músicas do novo trabalho, algumas delas porventura apenas mais conhecidas dos fans mais fieis. “Meat is Murder” (acompanhado de um chocante… chocante…chocante) vídeo acerca das condições a que estão sujeitos os animais na industria alimentar e “One day goodbye Will be Farewell” antecipando o “habitual” encore.
Esperava um pouco mais após o regresso ao palco, mas antes de atirar a camisa suada para o meio da multidão, Morrissey apenas tocou mais duas músicas . A brilhante e arrepiante “Asleep” dos Smiths e “First of the gang to die”.
Acredito que para os “fans” de Smiths (se é que os há em exclusivo relativamente ao Morrissey) o concerto tenha sido uma pequena desilusão. Não apareceu “There’s a light that never goes out “ nem “Bigmouth Strikes Again”. Não apareceu “Everyday is Like Sunday” nem “Suedehead” para os mais clássicos do Moz, mas apareceu em palco um dos monstros sagrados do Rock Britânico e em boa forma. Isso vale qualquer noite… Como aquele golo do Isaias festejado de forma tauromáquica (desculpa Moz) em Alvalade…
Até breve.
Boa report na "Blitz" aqui ou a do "Disco Digital" também aqui